Pesquisadores alertam para prejuízos para a saúde humana, para o meio ambiente e econômicos causados pelo excesso de luz artificial
Nas grandes cidades, quando olhamos para o céu, conseguimos ver a Lua e algumas estrelas bem brilhantes. Vamos tentar imaginar como era visto o céu antes de existir a luz elétrica? O mais próximo deste cenário é ir para as áreas rurais, afastadas dos grandes centros urbanos e menos afetadas pela iluminação artificial. Nesses locais, é possível ver um céu muito mais estrelado e até a Via Láctea, a galáxia que habitamos.
A luz elétrica foi uma grande conquista para a sociedade. Em 1879, Thomas Edison, aprimorando tentativas anteriores, acendeu a primeira lâmpada por eletricidade. Ao longo do século 20, a iluminação ampliou seu alcance e trouxe mais conforto e segurança para a população. Entretanto, esse excesso de luz artificial também traz prejuízos, entre eles, para a saúde humana, para o meio ambiente e também econômicos, e motiva a discussão sobre poluição luminosa.
Quando há pouca luz, a pupila se dilata para permitir a passagem de fótons – partículas de luz com uma certa energia, dependendo da cor, que compõem qualquer cena que temos na nossa visão. Com muita luz, a pupila se contrai, deixando passar um número menor de fótons. Esse fenômeno é o que nos faz perceber o céu de maneira totalmente diferente quando estamos num grande centro urbano, bastante iluminado, ou numa área rural com pouca iluminação. No primeiro caso, somente conseguimos avistar os objetos mais brilhantes do céu. No segundo, podemos enxergar também objetos com brilho mais fraco.
O princípio para o funcionamento dos telescópios é similar ao da pupila do olho humano. Por isso, a Astronomia é bastante impactada pela luminosidade artificial. As observações astronômicas são diretamente afetadas pela presença de luz excessiva nas redondezas. “O telescópio constitui um amplificador da nossa pupila. Com a presença de luz artificial, a qualidade das observações fica comprometida. A iluminação pública das cidades espalha fótons na atmosfera que são captados pelo telescópio, mesmo por aqueles situados em sítios mais afastados, e interferem nas imagens astronômicas”, explica o astrônomo Fernando Roig, pesquisador do Observatório Nacional.
Este é, inclusive, um dos fatores a levar em consideração para definir o local de instalação de um observatório astronômico. Se não é possível encontrar este local adequado, como acontece com os telescópios em solo brasileiro, o ideal é que a iluminação pública das cidades vizinhas utilize lâmpadas de vapor de sódio, o que torna a astronomia um norteador de políticas públicas. “A lâmpada de sódio tem uma cor amarelada e emite uma luz quase monocromática, centrada em uma faixa estreita de comprimentos de onda do espectro electromagnético. Essa lâmpada não permite distinguir claramente as cores dos objetos que iluminam, mas em compensação contaminam menos as imagens obtidas pelos telescópios”, explica Roig.
A solução para a poluição luminosa não é, certamente, apagar as luzes das cidades. Mas os impactos podem ser diminuídos adotando algumas estratégias. “Todo esforço para minimizar os efeitos da poluição luminosa ajuda. Trocar as suas lâmpadas incandescentes ou fluorescentes por lâmpadas de led, que poluem menos, é uma importante contribuição. Além, claro, de desligar as luzes de casa sempre que puder”, destaca Roig.
Observatório Nacional
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