Devido à falta de imunidade global, a adoção de intervenções em saúde pública, como distanciamento social, continua essencial para deter a pandemia
Recentemente, um grupo de pesquisadores da Universidade Harvard, que trabalha com modelagem, mostrou que o novo coronavírus sobrevive melhor em condições mais frias e secas. Essas condições climáticas propiciam maior estabilidade ao vírus, ampliando sua propagação. Quanto maior o tempo em que o vírus permanece estável no ambiente, maior sua capacidade de infectar outras pessoas e provocar surtos epidêmicos.
O clima entra em jogo porque afeta a estabilidade do vírus fora do corpo humano, quando expulso pela tosse ou espirro. É possível que quanto mais alta a temperatura e a umidade, mais curto o tempo de sobrevivência do vírus.
Os coronavírus são uma família dos chamados “vírus envelopados”. Isso significa que eles são revestidos com uma camada oleosa, conhecida como bicamada lipídica, cravejada com proteínas, que se destacam como pontas de uma coroa, daí o nome dos coronavírus (do latim, corona significa coroa).
Pesquisas com outros tipos de coronavírus sugerem que esse revestimento oleoso os torna mais suscetíveis ao calor, em relação àqueles que não possuem essa camada. Em condições mais frias, o revestimento oleoso endurece para um estado semelhante a borracha, protegendo o vírus por mais tempo quando está fora do corpo humano.
Para comparar, a característica é parecida com a gordura da carne cozida, que endurece à medida que esfria. Como resultado, a maioria dos vírus envelopados tende a mostrar certa sazonalidade, ou seja, proliferam-se com maior ou menor velocidade, dependendo do clima de cada estação do ano.
Apesar desse avanço científico, especialistas alertam: devido à falta de imunidade global, essa possível eficiência menor de transmissão, em locais mais úmidos e com maiores temperaturas, não levará a uma redução significativa da disseminação da doença. Com isso, a adoção de grandes intervenções em saúde pública, como distanciamento social, quarentenas, mudança no comportamento das pessoas e controle de higiene em espaços públicos, continua essencial para deter a pandemia.
Os cientistas também argumentaram, em nota enviada à Casa Branca, que o vírus ainda está sendo transmitido em países com climas quentes. Na Austrália e no Irã, por exemplo, países atualmente em climas de verão, houve uma rápida disseminação do vírus.
É o caso também de Manaus, no estado brasileiro do Amazonas. Com altas temperaturas e umidade, o sistema de saúde pública entrou rapidamente em colapso, em função do surto de casos confirmados de Covid-19. Por outro lado, o Rio Grande do Sul, localizado no extremo sul do País, ficou mais frio e seco, neste período de verão-outono, mas não registrou descontrole no número de casos de Covid-19, e já planeja retomar suas atividades econômicas.
Assim, os dados disponíveis, no Brasil, mostram que, mesmo que o clima influencie, em algum grau, na disseminação do vírus, o fato de grande parte da população ser suscetível ao coronavírus, afeta a velocidade de transmissão da doença.
Além disso, fatores socioeconômicos e questões culturais potencializam a propagação do vírus. É o caso da grande desigualdade social no Brasil, da falta de infraestrutura básica para a população e da dificuldade para isolamento dos mais vulneráveis; também ainda não havia no País uma memória coletiva sobre como se comportar para evitar a velocidade de contágio de uma pandemia.
Em países como a China, Hong Kong, Coreia do Sul, Cingapura, Taiwan e Japão, depois da experiência com o surto da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), em 2002, as pessoas estavam preparadas para adotar práticas sociais radicais de higiene e distanciamento social.
Conhecer o coronavírus e as transformações genéticas naturais porque passa é a primeira etapa para encontrar uma vacina ou tratamento, que possam controlar a pandemia do novo coronavírus. Cientistas de diferentes países já concluíram que o Sars-CoV-2 é um vírus estável, acumulando, em média, uma a duas mutações por mês, taxa considerada muita baixa e muito inferior às transformações genéticas do vírus da gripe. Isso pode facilitar na efetividade da imunização pela vacina contra a Covid-19, quando esta vier a ser descoberta.
Embora os estudos com o Sars-Cov-2 ainda sejam incipientes e haja muitas incertezas, já existem evidências de que o clima é um dos fatores que influencia, em algum grau, na estabilidade e propagação do novo coronavírus.
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