Na busca de soluções para a pandemia, iniciativas de trabalho em conjunto de áreas distintas pode mudar o jeito de fazer ciência no futuro
“Quando a quarentena acabar, eu quero abraçar os amigos e tocar minha vida como antes”. É assim que sonhamos nestas noites de afastamento social. Todos nós desejamos que após a quarentena tudo volte ao que era antes. Só que infelizmente a tendência não é esta. O covid-19 iniciou um ciclo que não tem mais volta: ao sairmos da quarentena, as chances de contaminação tendem a ser ainda maiores que eram quando nos isolamos. Milhares de contaminados circularão pelas ruas e precaução ainda maior se fará necessária. E enquanto não tivermos vacinas para o covid-19, tudo deve continuar neste clima – afastamento social e o temor pelas sequelas de um vírus totalmente desconhecido.
E não apenas a interação entre as pessoas, mas também nas relações entre os países, nas fronteiras, no modelo de comércio, nas relações de trabalho e na forma de fazer ciência.
E esta última já vem sendo fortemente impactada, tanto pela urgência dos prazos, quanto pela necessidade de atuação multidisciplinar. Nesta direção, o consórcio de governadores do nordeste teve uma ação pioneira e totalmente louvável ao montar um comitê de enfrentamento à crise encabeçado pelos cientistas Miguel Nicolelis e o físico (ex-ministro de C&T) professor Sergio Rezende. Esta ação é simbólica por mostrar a resistência que o nordeste representa ao reconhecer a ciência como eixo norteador nesta guerra contra o vírus.
Outra ação, desta vez encabeçada pelo prof. Nicolelis, se refere ao projeto Mandacaru, cujo objetivo é o de organizar as competências de pesquisadores em diferentes eixos de ação para potencializar a capacidade intelectual destes voluntários no enfrentamento à crise.
Ao contrário do que possa parecer colocar áreas distintas para interagir e atuar conjuntamente em uma temática não é algo simples de ser implementado. Aquela parcela que se mostra mais à vontade no tema tende a assumir a maternidade do processo (atuar como área mãe) e coordenar as ações. Em condições normais, CNPq e CAPES poderiam gerenciar esta ação conjunta dos pesquisadores de todo país, que, cedo ou tarde precisará trabalhar em torno desta problemática. Entendo que este é um momento que foge de toda a previsibilidade e que ações pontuais são sempre muito bem vindas. Que esta seja a semente de um projeto (de fato) nacional de enfrentamento ao covid-19, em que todas as áreas atuem em conjunto para minimizar a dor de um povo que tem fome e que se sente impotente diante de algo extremamente poderoso e imprevisível como este vírus. Particularmente, já coloquei meu nome à disposição para atuar no projeto mandacaru – o desafio está colocado – ajudar naquilo que foge de nossa zona de conforto.
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Leia o texto anterior: Revolta da vacina, gripe espanhola e covid-19
Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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