Sequenciamento genético do coronavírus feito na UFBA pode ajudar a desenvolver remédios e vacina
Para derrotar um inimigo, é preciso conhecê-lo. Por isso, em apenas uma semana, cientistas da UFBA fizeram o sequenciamento genético do coronavírus e conseguiram mostrar que o Sars-cov-2, responsável por infectar mais de 800 mil pessoas no mundo, já possui alterações que o diferenciam, por exemplo, do material genético chinês utilizado como referência.
A investigação é um ponto de partida para diversas outras, sobre evolução do vírus, imunização e medicação. E se destaca por fornecer informações sobre a transmissão da doença causada pelo vírus, a Covid-19, e as mutações que acontecem em populações e regiões mundo a fora.
A pesquisadora Rejane Hughes, do Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UFBA), coordenado pelos professores Gúbio Soares e Silvia Sardi, explica que o coronavírus é formado por uma cadeia de RNA (ácido ribonucleico), que traz as informações genéticas do vírus.
“Algumas proteínas do vírus estão relacionadas com a parte imunogênica, responsável pela produção de anticorpos. Alterações na sequência do RNA podem influenciar no funcionamento ou não de uma vacina”, explica a bióloga molecular.
Hughes conta que o estudo, enviado recentemente para publicação em revista científica sob autoria da equipe do Laboratório de Virologia, identificou 15 mutações em relação ao genoma do vírus de referência. Ela explica, contudo, que a descoberta não significa que o coronavírus se tornou mais ou menos agressivo, pois as mutações fazem parte da própria condição de existência do vírus.
Isso se deve, em especial, ao fato de o vírus “ser de RNA, reconhecido por ser mais instável que organismos de DNA. Assim, não significa que essas alterações tenham um papel ou modifiquem o vírus de alguma maneira. É muito cedo para afirmar isso”, conta Hughes, doutora em genética biomédica no Erasmus Medical Center, na Holanda e atualmente bolsista da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Extensão (Fapex). A pesquisadora trabalha também em um estudo sobre a dinâmica de transmissão do zika vírus e a imunidade de grupos após a epidemia.
Hughes explica que as mutações do coronavírus podem estar em regiões que não causem uma resposta imunogênica ou alterações na capacidade infecciosa. “É preciso acompanhar a evolução do vírus, quais bases do genoma estão sendo modificadas e qual a importância dessas alterações”, reflete.
A população infectada também importa à pesquisa, pois “se o vírus infecta uma população homogênea, ele se comporta de uma maneira. Se infecta uma heterogênea, se comporta de outro modo”, observa.
Foi o Laboratório de Virologia que identificou o coronavírus no segundo paciente a ter o diagnóstico confirmado pelo estado. O sequenciamento do coronavírus foi feito diretamente do material colhido do paciente e feita de forma metagenômica, ou seja, identificando quais organismos estão presentes nas secreções respiratórias. “Não é necessário isolar o coronavírus para identificar que existe o material genético dele na amostra”, explica Hughes.
As pesquisas sobre o coronavírus irão continuar no Laboratório de Virologia, reconhecido por suas contribuições na identificação de viroses no país, entre muitos feitos, a identificação do zika vírus no Brasil, em 2015 – antes da descoberta, acreditava-se que se tratava de uma infecção por parvovírus.
“Pretendemos continuar avaliando, fazer um perfil genético da Covid-19 circulante na Bahia, investigar o painel de resposta imune da população em relação ao vírus”, explica Hughes. No entanto, o financiamento à pesquisa é fundamental para dar condições ao estudo do coronavírus, pois, segundo a pesquisadora, pesquisas de sequenciamento genético são extremamente caras.
Laboratório de Virologia do ICS
Criado em 1997, o Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências da Saúde é o único na sua especialidade na UFBA e no Estado da Bahia, destacando-se pelos projetos de pesquisa na área de Virologia Humana e Animal.
O laboratório é capaz fazer o diagnóstico do coronavírus em até três horas, por meio do equipamento chamado Real-Time. O equipamento, que custa R$ 150 mil, foi importado dos Estados Unidos em dezembro do ano passado e é capaz de verificar se o material genético (RNA) da secreção respiratória contém o gene do coronavírus.
Fonte: Boletim Edgar Digital/UFBA
Deixe um comentário