ERA: uma ferramenta simples para auxílio na tomada de decisões Disruptiva

quarta-feira, 18 março 2020

Em tempos de Covid-19, colunista aponta que crises são momentos para inovar e empreender

“Contestar hipóteses básicas é essencial para criar ideias revolucionárias”

Eliyahu Goldratt, pai da Teoria das Restrições (TOC)

No livro R&D Management in the Knowledge Era: Challenges of Emerging Technologies (2019), encontrei uma ferramenta interessante, poderosa e simples para desafiar a criatividade e promover a inovação: a ERA. Ela é, na verdade, usada para romper a inércia psicológica (IP) que tanto decanto por aqui.

Em tempos de Coronavirus disease (COVID-19), com um pouco de adaptação, utilizei a ERA para trabalhar no processo de tomada de decisões e ver como ela se sairia. Assim como Eliyahu Goldratt, acredito que questionar as soluções adotadas é uma forma de criar novos e melhores caminhos, pois os vírus sempre sofrerão mutações, sabemos disto, não podemos utilizar sempre a mesma receita e nem entrar em crise a cada nova mudança. É necessário se pensar processos com antecipação. Como eu gosto de dizer: crises são momentos para inovar; quem tem de estar em crise é o Mercado, não o empreendedor.

Assim, prepare o álcool gel e vamos ver do que se trata a ERA.

Background

Desmistificando as letrinhas, temos:

E: posso Eliminar algum elemento desta atual abordagem?

R: quais são as Razões para a abordagem atual?

A: existem Alternativas à abordagem vigente?

Utilizando a ERA, podemos contestar crenças, premissas e limitações relativas ao status quo e tomar decisões “salomônicas”, aparentando sapiência. Vamos exercitar em um cenário fictício.

Cenário

Uma grande escola em um dado país  – vou chamá-la de BigEdu – está imersa em um momento de pandemia. Observando que em lugares onde o vírus COVID foi incubado a inércia na tomada de decisão provocou alto grau de contaminação com resultado letal proporcional, e que também em outros lugares a curva ficou achatada, a BigEdu colhe todos os informes e instala um gabinete de crise. 

Objetivo: determinar os melhores procedimentos para manter a curva de contaminação achatada.  

Fato: alto grau de conexão eletrônica entre indivíduos (rede), como nunca antes na história. Grandes epidemias na era moderna mataram milhões, principalmente por falta de comunicação e compilação de soluções parciais que, juntas, poderiam resultar em soluções totais. Excelentes pesquisadores em várias áreas do conhecimento plugados em rede. Vasto arsenal de dados históricos com causas, efeitos e soluções para cada uma das pandemias.

Ideias: inúmeras. (A) Simulações de encaixe antígeno-anticorpo por força bruta (várias tentativas de moléculas contra moléculas). (B) vacinas aplicadas contra vírus similares. (C) Pessoas imunes com anticorpos à disposição. (D) Simulações fantásticas sobre o efeito de isolamento total ou de parte da população e seus respectivos desdobramentos. (E) Experiência de sanitaristas do mundo todo depositadas em bancos de dados, disponíveis para a famigerada IA trabalhar, a exemplo do que fala o artigo Big Data e mídias sociais: monitoramento das redes como ferramenta de gestão , que mostra a viabilidade de previsão de padrões epidemiológicos através do monitoramento das redes Facebook, Twitter, Instagram, Flickr, Youtube e blogs etc. (F) Os cases em tempo real. (G) Muitas outras que milhares de pessoas comuns, como eu, você e os índios da amazônia podem ter, disponíveis na rede amorfa (Whatsapp, Telegram etc.), prontas para serem coletadas.

Questões: porque a rede não está funcionando? Onde estão as autoridades sanitárias que não estimulam a rede? Por quê só promover o pânico na rede, ao invés de, por exemplo, um desafio em forma de gamificação universal – até com bonificação -, entre indivíduos, escolas, instituições, startups etc., para quem apontar caminhos?

Muito pano para manga…

Brainstorming conduzido 

Eliminar.

Entre utilizar antissépticos e evitar o contato entre indivíduos, observou-se que o mais efetivo para promoção do achatamento da curva de contaminação advém da redução do número de interações entre pessoas contaminadas (PC) e pessoas sadias (PS). Pergunta: pode-se eliminar totalmente o contato entre estes indivíduos? Pode-se esterilizar com segurança todos eles? Se sim, faça. Caso contrário, vamos ver as razões envolvidas.

Razões

É impossível ter 100% das pessoas em condições de esterilização perfeita. Qualquer espirro, pegada em objeto contaminado inadvertidamente (as crianças são mestras nisto), são canais de contaminação perfeitos. Da mesma forma, é impossível eliminar 100% das interações humanas entre  indivíduos PC e PS. Primeiro porque não se pode identificar precisamente as PC. Segundo, as PC necessitarão das PS, ou definharão até a morte. Então temos que encontrar alternativas.

Alternativas

Já que não se pode ter 100% das principais soluções, deve-se reduzir as interações humanas e aumentar a assepsia. Mais: distribuir as ideias elencadas acima (A) – (G) entre vários grupos no mundo e colocá-las para moer. Algum destes experimentos deu certo? Se sim, promova em diferentes grupos. Se não, partimos para geração de novas ideias.

Observe que eu sozinho, um leigo, em 10 minutos, bolei sete ideias. Imagine toda a nossa inteligência coletiva instalada e conectada ??? Existe alguma startup capaz de fazer um tipo de promoção desta, conectar todos em prol de um tema único, neste caso a quebra da pandemia? Dos bilhões de reais aportados para essa crise, o Governo não poderia estimular uma iniciativa deste tipo? Há o que se pensar…

Montando o Quadro ERA

Quadro de tomada de decisão ERA

Pronto: agora é só “rodar” ou montar uma “startupzinha” para isso. Todo esse processo tem de ser concentrado em algum ponto. Tem de ser feito de modo colaborativo. Temos de criar um um canhão e parar com a dispersão de esforços. A BigEdu pode e deveria conduzir este processo.

Finalizando

Na realidade, sabemos que não é tão fácil montar o experimento acima mas, até ele, pode ser pensado de forma coletiva. Entretanto, se admitirmos que o caminho atual é único, nunca inovaremos. Nesse caso, o pânico será nosso vizinho constante. Os gestores não podem se limitar a deixar coisas tão grandes em suas respectivas mãos apenas. A liderança pode ser testada também na coordenação de pessoas extra-muros. O mundo não possui mais fronteiras, de modo que o problema de um é de todos.

Referências:

Corona simulator

Big Data e mídias sociais: monitoramento das redes como ferramenta de gestão 

A coluna Empreendedorismo Inovador é atualizada às quartas-feiras. Gostou da coluna? Do assunto? Quer sugerir algum tema? Queremos saber sua opinião. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag #EmpreendedorismoInovador.

Leia a edição anterior: O fim das incubadoras de universidades públicas

Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Gláucio Brandão

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