Pesquisa da UFRN avalia se exame de sangue pode detectar câncer de mama
Toda mulher que já precisou passar por uma mamografia conhece o incômodo – ou mesmo a dor intensa – que é passar pelo exame anual para detecção do câncer de mama. Sim, aquele em que duas placas achatam o seio por alguns segundos para registro de imagens e que, apesar dos pesares, segue até hoje como o meio mais importante para identificação do câncer, mesmo em estágio inicial.
A mamografia continua tendo sua importância, porém uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) sugere que, em alguns anos, um novo exame poderá ser usado como aliado na busca por um diagnóstico. E o melhor: mais rápido, barato e praticamente indolor, utilizando apenas algumas gotas de sangue coletadas da paciente. O exame ainda está em fase de testes e precisa cumprir duas novas etapas com sucesso antes de ser oferecido na rede hospitalar.
A pesquisa, conduzida pelo professor do Instituto de Química da UFRN, Kássio Michell Gomes de Lima, foi desenvolvida nos últimos dois anos utilizando um exame conhecido como Bioespectroscopia e técnicas multi-variadas de classificação em um grupo de 476 mulheres, entre elas pacientes da Liga Norte Riograndense contra o Câncer, que participaram de forma voluntária do estudo.
Formas alternativas
A Liga, que é uma instituição de referência regional na prevenção e tratamento da doença, serviu como local de testes para a Fase 2 da pesquisa, que buscou resposta para a seguinte hipótese: É possível fazer uma triagem de mulheres que tenham câncer de mama através do sangue e do infravermelho? Para análise, o grupo de pesquisadores passou dois anos coletando sangue de mulheres saudáveis e de mulheres que foram diagnosticadas com câncer de mama, aplicando o infravermelho com apoio de algoritmos capazes de fazer a diferenciação entre os dois plasmas sanguíneos. “Chegamos à conclusão que os nossos resultados são tão satisfatórios quanto os da mamografia”, comemora Kássio.
Para embasar esta afirmação, o pesquisador se apoia em dois parâmetros: A faixa de sensibilidade da mamografia, que varia entre 88% e 93% de acerto, enquanto o resultado do exame de sangue aponta para 94% de acerto, ou seja, dentro da mesma faixa de acerto da mamografia. Em termos de especificidade, a mamografia varia entre 85% e 94%, enquanto o exame de sangue oferece precisão de 91%. Simplificando: Nessa fase de testes, o exame de sangue provou ser tão eficiente quanto a mamografia tradicional. Os bons resultados creditaram o estudo a evoluir para a Fase 3, a chamada validação.
Fim da mamografia?
A nova fase da pesquisa engloba testes cegos, o que significa que os pesquisadores coletam o sangue das voluntárias, que podem ou não estar doentes. O mesmo método de análise sanguínea será aplicado e depois validado pela mamografia. “O mastologista também vai fazer um exame cego com as pacientes, pois não saberá dos nossos resultados. Ao final a gente cruza as informações para saber se esses dados vão se manter constantes”, diz Kássio. Todas as mulheres participantes serão monitoradas durante os próximos dois anos.
Com a validação dos resultados dessa fase, a pesquisa poderá então evoluir para a Fase 4, na qual precisa obedecer a condições controladas e, só após a aprovação, poderá ser patenteada e enfim oferecida em unidades de saúde para o público em geral.
Se, após a maratona de testes, o exame de sangue comprovar sua eficácia, isso pode significar o fim da mamografia? O professor Kássio diz que ainda não é o momento para aposentar as temidas chapas. “A mamografia sempre será um método de referência. O que nós propomos é um método complementar de triagem: se o exame de sangue der positivo, a paciente é encaminhada para a mamografia. Se der negativo, não”.
A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) recomenda a mamografia anual para mulheres acima dos 40 anos. Pacientes com casos de câncer de mama ou ovário na família devem começar fazer a mamografia mais cedo, conforme orientação do mastologista. Mulheres obesas que ingerem bebida alcoólica e que não praticam atividade física estão mais propensas a desenvolver o câncer.
Fonte: Agecom UFRN
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